Entrevista

Redação SINTAJ 6 MIN PARA LER

Muitos dos trabalhadores do Judiciário baiano, além de exercerem suas funções como servidores do TJ-BA (Tribunal de Justiça da Bahia), mantêm carreiras artísticas paralelas. O SINTAJ sempre faz questão de prestigiar os seus filiados quando estes realizam novos feitos em suas atividades ligadas às artes. Dessa vez, a Revista SINTAJ conversa com dois filiados: a escritora Fátima Trinchão e o jornalista Ari Donato, ambos servidores aposentados do TJ-BA. Trinchão fala sobre o seu livro mais recente, “A Talha”, obra de poesias lançada em janeiro deste ano. Já Ari conversa com a revista sobre seu último lançamento, o livro “A Criação, não a Criatura”, fábula espírita lançada em 2019. Veja abaixo a entrevista dos dois autores:

Fátima Trinchão

“A Talha” é um livro de poesias sobre temas variados. A senhora pode dar alguns exemplos de assuntos abordados nos poemas presentes na obra?

FT – Vejo a arte literária como uma forma de levar mensagens e provocar reflexões a respeito do nosso cotidiano. Os temas que mais constantemente chamamos ao nosso trabalho são os que nos fazem pensar e refletir sobre o racismo, presente de forma intensa em nossa sociedade, a desigualdade, a importância do respeito ao outro, do respeito à vida e à natureza. Tudo nos é precioso e a poesia está presente ao nosso redor. Basta ter olhos para vê-la.

2020 foi um ano extremamente difícil para os brasileiros no geral. O que te trouxe inspiração para escrever essa obra em um momento tão conturbado?

FT – Sim, 2020 foi um ano difícil de prever e sequer imaginar. Tristezas em toda a humanidade. Os poemas publicados no livro “A Talha” foram publicados em nossa página na internet ao longo dos anos. Um dos mais recentes, e que foi feito ou criado em plena pandemia, tem o nome de “Silêncio”.

Qual dos poemas presentes no livro mais te toca?

FT – Em verdade, para mim, todos os poemas presentes no livro “A Talha” são especiais, tendo em vista que o momento em que os escrevi foram especiais e únicos. Poderia estar me dirigindo a uma pessoa, ao esplendor da natureza, a um momento vivido. Os poemas “A Marcha”, “Silêncio”, “Cadeira de Balanço”, “O Relógio”, “Bailarina” e tantos outros me fazem recordar momentos e situações especiais.

 

Ari Donato

A proposta do seu livro é bastante original. Uma fábula com viés espírita e que trata de um tema social bastante importante, que é a ação predatória do homem na natureza. Como surgiu a ideia de escrever essa obra?

AD – Certa noite tive um sonho em que via um bem-te-vi cantando para um cavalo enquanto ouvia dele os relinchos e pulava de um lado para o outro. Como participante do sonho, eu via a ave e o cavalo, mas não sabia se eles se comunicavam. Daí veio a ideia de escrever uma pequena história dando voz aos animais, nos moldes da fábula “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell. Só que na minha fábula os animais são dotados de alma. Não uma alma da forma que o dicionário e os livros de medicina definem, mas como o kardecismo defende. No livro, os animais também têm inteligência, que vai além do simples instinto.

A necessidade de preservação do meio ambiente é um tema que tem sido bastante debatido ultimamente. Você acha que as próximas gerações vão realmente conseguir tornar o mundo um lugar melhor para os animais?

AD – Eu sonho com isso e criei meus filhos com essa mentalidade, da irmandade entre humanos e animais por conta do processo divino da criação. Mas não acredito que seja tão simples essa irmandade, pois homens e animais, especialmente o homem, fazem parte de um processo de crescimento espiritual. Os homens não entendem que não há animal feroz, mas animal que se defende de uma agressão. Mas, com certeza, sempre haverá os que lutam pela defesa dos animais. Meu livro mostra que há esperanças, sim. Se não pela conscientização, pela fiscalização.

O jornalista Carlos Navarro, que escreveu a apresentação do seu livro, elogiou o trabalho de pesquisa que você realizou para escrever a história. Como foi esse processo?

AD – Eu sou católico apostólico romano, mas tenho afinidade com o espiritismo e gosto das mensagens espíritas reunidas por Allan Kardec em “O livro dos Espíritos” e em “A Gênese”, dois livros que li com atenção para embasar os diálogos dos animais. Li outros livros que tratam da alma e da inteligência dos animais, principalmente livros espíritas. O processo foi agradável, pois para escrever a fábula eu precisei manter contato com livros como “Conceito de angústia”, de Soren Aabye Kierkegaard; “Ética a Nicômaco”, de Aristóteles e “Fédon”, de Platão, dentre outros. Também fiz pesquisas em leis de maus-tratos [contra animais] e crimes ambientais.

 

Mais lançamentos literários

A trabalhadora do TJ-BA (Tribunal de Justiça da Bahia) e filiada ao SINTAJ Analu Leite também lançou seu primeiro livro este ano, no dia 8 de maio.  A obra “Com Amor, Mamãe” é um romance epistolar (escrito em forma de cartas) que conta a história de uma mãe que, ao ver sua filha deixar o interior da Bahia para se aventurar na capital paulista com o namorado, passa a resgatar as memórias de toda a trajetória que as duas viveram juntas até aquele momento. Através da história central, o livro aborda variados aspectos da maternidade.