Escândalos, casos e investigações envolvendo a família Bolsonaro

Redação SINTAJ 6 MIN PARA LER

Enquanto  entidade sindical, o SINTAJ sempre foi contra o governo do presidente Jair Bolsonaro por todos os ataques que a sua administração tem feito aos direitos de todos os trabalhadores e pelo desrespeito com que o presidente e seus ministros tratam os funcionários públicos. No entanto, o repúdio do sindicato à ânsia do chefe do Executivo brasileiro por dizimar direitos sociais se soma à indignação por estar cada vez mais claro – o que todo mundo já sabia, mas que agora está sendo exposto pelos próprios (ex) aliados  –  que o presidente também é a personificação da velha política – que tanto critica – no trato da coisa pública e da estrutura do Estado.

No dia 24 de abril, em um pronunciamento transmitido em rede nacional, o então ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro, anunciou o seu pedido de demissão do ministério. Ao falar da decisão do presidente Jair Bolsonaro de exonerar o diretor geral da PF (Polícia Federal), Maurício Valeixo, justificativa dada por Moro para o seu desembarque do governo Bolsonaro, o ex-juiz acrescentou mais dois casos ao já vasto currículo de escândalos do presidente e da sua família.

O ex-ministro afirmou que o presidente demitiu Valeixo para colocar no comando da PF alguém que permitisse que Bolsonaro interferisse politicamente na instituição.

“O presidente me disse mais de uma vez, expressamente, que ele queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informações, que ele pudesse colher relatórios de inteligência, seja diretor, seja superintendente”

Sérgio Moro

O ex-magistrado ainda contou que, embora a sua assinatura constasse na primeira publicação da demissão de Valeixo no Diário Oficial, ele não havia assinado a exoneração, o que levantou a possibilidade de o presidente poder ser acusado de falsidade ideológica.

As acusações de Moro levaram o procurador-geral da República, Augusto Aras, a abrir uma investigação para saber se o presidente realmente tentou interferir na PF. O avanço da denúncia pode culminar no afastamento automático de Bolsonaro por 180 dias. Os possíveis crimes investigados são: falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia administrativa, obstrução de Justiça, corrupção passiva privilegiada, prevaricação, denunciação caluniosa e crime contra a honra.

Para adicionar ainda mais lenha à fogueira, no dia 16 de maio a Folha de São Paulo publicou uma entrevista com o empresário Paulo Marinho, ex-aliado do presidente Bolsonaro e suplente do seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, em que ele afirma que a PF avisou antecipadamente a Flávio sobre a operação do caso Queiroz. Marinho já prestou dois depoimentos à Polícia Federal do Rio de Janeiro sobre o caso.

Como já está claro, ao contrário da imagem que tentam passar, Bolsonaro e seus filhos – carinhosamente numerados de 01 a 04 pelo pai – estão ligados e/ou envolvidos em vários casos notáveis pela abundância de práticas nada republicanas, alguns, inclusive, alvos de investigação formal.

O SINTAJ listou abaixo  os principais escândalos envolvendo a família Bolsonaro:

RACHADINHA / CASO QUEIROZ

Amigo de Bolsonaro pai desde os anos 1980, o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ)  passou a ser investigado em 2018, quando o Coaf (atual Unidade de Inteligência Financeira) descobriu transações suspeitas em sua conta bancária. De acordo com o órgão, entre janeiro de 2016 e o mesmo mês de 2017 Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão, valor incompatível com seus vencimentos, e recebeu transferência de sete servidores que atuavam no gabinete de Flávio, quando este ainda era deputado estadual do Rio de Janeiro. A suspeita é de que estas transações e o grande montante movimentado se deu a partir da prática da “rachadinha”, na qual os assessores devolveriam parte dos seus salários ao filho 01.

Para os investigadores Flávio é líder de uma organização criminosa que atuou no seu gabinete entre os anos de 2007 e 2018. O caso ainda tem mais duas subtramas. A primeira delas é o depósito de um cheque no valor de R$ 24 mil feito por Queiroz na conta da primeira dama, Michele Bolsonaro, que, segundo o presidente, é parte do pagamento de um empréstimo de R$ 40 mil que ele fez ao amigo. A segunda é a investigação da possibilidade de a “rachadinha” ter sido utilizada para financiar a milícia chefiada pelo ex-policial do Bope, Adriano da Nóbrega, morto em fevereiro deste ano, e cuja ex-mulher, Danielle Mendonça, trabalhou como assessora de Flávio.

As movimentações atípicas de Queiroz foram descobertas em um braço da Operação Lava Jato. O caso é investigado pelo MP (Ministério Público) do Rio de Janeiro e corre em segredo de Justiça. Na manhã do dia 18 de junho Queiroz foi preso na Operação Anjo, comandada pelo MP-RJ. O ex-assessor estava escondido na cidade de Atibaia, no interior de São Paulo, em um imóvel do advogado Frederick Wassef, responsável pelas defesas do presidente e de seu filho Flávio.

Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz. FOTO Reprodução/Instagram

OS PRÉDIOS DA MILÍCIA

De acordo com reportagem do site jornalístico The Intercept Brasil, o senador Flávio Bolsonaro financiou  e lucrou com a construção de prédios ilegais erguidos  pela milícia nas favelas de Rio das Pedras e Muzema, que ficam em Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro. O site atribui as informações a documentos e dados do inquérito aberto pelo MP do Rio. O caso pode ser considerado um desdobramento do esquema das rachadinhas, pois, segundo a matéria, a construção dos prédios foi feita com dinheiro do esquema que vigorava no gabinete de Flávio na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). Uma parte do dinheiro confiscado dos servidores do gabinete seria passado a Adriano da Nóbrega, chefe da milícia Escritório do Crime. O lucro da construção e da venda dos prédios seria dividido também com Flávio, financiador do esquema. Ainda segundo a reportagem, em abril do ano passado dois desses prédios ligados a outras milícias desabaram matando 24 pessoas e deixando 10 feridos. De acordo com o The Intercept, a investigação é um dos motivos para que o presidente tenha pressionado Moro para trocar o comando da PF no Rio, que também apura o caso.

Marielle Franco em agosto de 2016. FOTO Mídia NINJA

O ASSASSINATO DE MARIELLE

O nome da família Bolsonaro surgiu na investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco e do seu motorista Anderson Gomes quando um porteiro do Vivendas da Barra, condomínio em que Bolsonaro mora no Rio de Janeiro, afirmou que Élcio Queiroz, um dos acusados do crime, foi à casa do presidente horas  antes do assassinato. O depoimento do porteiro à Polícia Civil foi revelado em reportagem do Jornal Nacional do dia 29 de outubro do ano passado. No entanto, quando foi prestar depoimento à PF o funcionário recuou e afirmou ter cometido um engano. Carlos Bolsonaro, filho do presidente, publicou nas redes sociais um vídeo em que mostra as gravações da portaria do residencial, com o objetivo de mostrar que nenhuma ligação foi feita para casa de seu pai no dia e hora apontados pelo porteiro. Em dezembro o STF arquivou os pedidos de investigação baseado na alegação da PGR (Procuradoria Geral da República) de que não havia fatos para serem apurados.

ASSESSORES FANTASMAS

O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos – RJ) é investigado pelo MP do Rio por contabilizar na folha de pagamento do seu gabinete pessoas que nunca trabalharam no local. Marta Valle, cunhada de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente, disse à Revista Época, que publicou a reportagem responsável pela abertura da investigação, nunca ter trabalhado no gabinete de Carlos, apesar de ter passado sete anos e quatro meses lotada no local. Reportagem da Folha também encontrou uma mulher que afirmou nunca ter atuado no gabinete do vereador, apesar de receber R$ 4.271 como funcionária do local.

Flávio Bolsonaro em CPMI da fake news no senado em setembro de 2019. FOTO Lula Marques

FAKE NEWS

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) é investigado pela CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) das Fake News, instaurada no Congresso. O deputado Alexandre Frota (PSDB-SP) afirmou, em março deste ano, que documentos enviados pelo Facebook à Câmara dos Deputados mostravam ligação de Eduardo Guimarães, assessor de Eduardo, no esquema de ataques virtuais, no qual toda a família está implicada, sendo, inclusive, Carlos Bolsonaro também um investigado da CPMI. Além disso, no dia 27 de maio a PF cumpriu 29 mandados de busca e apreensão no chamado inquérito das fake news. A investigação é comandada pelo STF e apura ameaças e ataques contra os ministros da Corte. Políticos, empresários e ativistas bolsonaristas foram alvos da operação.